Creio que se Diógenes vivesse hoje, acharia ainda mais difícil
encontrar pessoas de boa moral. Muitos parecem rejeitar a crença de que as
pessoas devem adoptar valores éticos fixos. Muitos dos valores que as gerações
passadas prezavam não são mais respeitados. Padrões estabelecidos estão sendo
reavaliados e, muitas vezes, rejeitados. Outros valores são reverenciados na
teoria, mas não na prática. Pode-se dizer com certeza, que, a época de padrões
de moral aceitos por todos já passou. Até que ponto estes valores estão em
mudança? Porque isto está a acontecer?
O colapso moral atinge todos os sectores da
Sociedade
A Sociedade actual enfrenta um vácuo de valores. Está fragmentada
por variados estilos de vida. Muitos raciocinam da seguinte forma: ‘Todos os
estilos de vida são alternativas aceitáveis. Se tu fores tolerante com o meu,
serei tolerante com o teu. Faz o que bem quiseres, e eu farei o mesmo. Cada um
deve fazer o que lhe agrada. Existem muitas maneiras de agir, e todas elas são
certas; nada é errado”. Existe portanto um relativismo moral que está na moda.
Lembra-me perfeitamente duma época em que era impensável um casal
viver junto sem se casar. Uma jovem tornar-se mãe solteira e os relacionamentos
homossexuais eram considerados comportamentos vergonhosos. Para a maioria das
pessoas o aborto, assim como o divórcio, estavam fora de cogitação.
Condenava-se a desonestidade nos negócios. Mas hoje, vale tudo. Por quê? Uma
razão é que isso serve aos interesses daqueles que não querem que outros lhes
digam o que não podem fazer.
As prioridades também mudaram. As nações medem seu sucesso quase
que inteiramente em termos económicos. Hoje, a jogatina generalizada promove o
amor ao dinheiro, ao passo que o rádio, a televisão, o cinema e os vídeos
incentivam os desejos materialistas. Concursos de prémios na televisão,
transmitem a mensagem de que o dinheiro é, se não tudo, pelo menos quase tudo.
As profundas alterações económicas, científicas e tecnológicas que a nossa
sociedade moderna tem conhecido, têm não apenas estimulado o abandono dos
valores tradicionais, mas parecem ter conduzido a humanidade para um vazio de
valores. O desenvolvimento económico dos países tem sido feito à custa da
poluição do ar, contaminação das águas, destruição das florestas, acumulação de
lixos, etc. As previsões sobre as consequências futuras destas acções são
aterradoras. O planeta terra está numa rápida agonia.
A ética a moral e os valores
Segundo o Novo Dicionário Enciclopédico ilustrado Luso-Brasileiro
a ética é descrita como a ciência da moral, e a moral é descrita como relativo
aos bons costumes. Portanto ambas as palavras se referem à autoridade do
costume e da tradição. Por outro lado define virtudes como disposição constante
da alma que leva a pessoa a praticar o bem e a evitar fazer o mal.
Por muito tempo, a religião em geral ditou as normas éticas pelas
quais as pessoas viviam. A Bíblia teve uma influência muito grande em muitas
sociedades. No entanto, cada vez mais pessoas rejeitam as normas religiosas,
considerando-as como nada práticas. Fazem o mesmo com o código de moral da
Bíblia — consideram-no antiquado. Não quero dizer aqui, que os códigos de moral
religiosos sejam os mais certos. Certamente muitos deles são ultrapassados em
face das descobertas científicas e alguns deles podem mesmo ser classificados
de injustos e errados, como é o caso da proibição do uso do preservativo, para
o controle da natalidade e a prevenção de doenças.
Actualmente temos a chamada cultura de massa. Os novos valores são
agora impostos por produtores de televisão, magnatas do cinema, modelos,
cantores de rap e muitas outras pessoas do círculo da comunicação social. Esses
manipuladores de opinião exercem um poder muito grande sobre a nossa cultura
especialmente sobre as crianças, e muitas vezes têm pouco ou nenhum senso de
responsabilidade em relação aos valores nocivos que propagam.
No passado as virtudes eram bem definidas. Ou a pessoa era
honesta, leal, casta e honrada, ou não era. Agora, o termo “virtudes” foi
substituído por “valores”. Mas existe um problema relacionado com isso. Não se
pode dizer sobre virtudes o mesmo que se pode dizer sobre valores, ou seja, não
se pode dizer que cada pessoa tem o direito de escolher suas próprias virtudes.
Os valores podem ser crenças, opiniões, atitudes, sentimentos,
hábitos, costumes, preferências, preconceitos e até idiossincrasias — tudo o
que uma pessoa, um grupo ou uma sociedade valoriza, a qualquer momento, por
qualquer razão. Numa sociedade liberal como a de hoje, as pessoas acham que têm
justificativa para escolher seus próprios valores, assim como escolhem o que
vão comprar num supermercado. O problema é que se criou a ideia de que não há o
certo nem o errado, perdeu-se a noção dos verdadeiros valores que torna o homem
grande. Muitas vezes um “gatuno” bem sucedido é considerado um homem de
sucesso. Mas quando se faz isso, o que acontece com as verdadeiras virtudes e a
moralidade? O que pode preencher a lacuna? Como se tem procurado resolver o
problema?
Opiniões conflituantes
Alguns filósofos aventaram muitas ideias. Alguns propuseram um
‘código de moral universal’, mas não conseguiram chegar a um acordo sobre qual
a definição de moral que deveria ser o padrão.
Outros acham que a preocupação com o próximo deveria guiar a
conduta da pessoa. Mas aquilo que alguém considera ser a devida preocupação com
os outros talvez não seja visto desse modo por outrem. Como exemplo, durante
séculos, muitos donos de escravos consideravam ser uma preocupação devida
alimentar e abrigar seus escravos, mas tais escravos achavam que a devida
preocupação deveria resultar em serem libertos da escravidão.
Não há dúvida de que a ampla variedade de conceitos muitas vezes
conflituantes que os filósofos apresentaram sobre os valores morais têm
confundido muita gente. As ideias deles não produziram qualquer padrão moral
comum a todos; tampouco suas filosofias levaram a família humana à paz e à
união. Quando muito, suas muitas ideias conflituantes têm levado um número
crescente de pessoas a concluir que o padrão moral da própria pessoa é tão bom
quanto o dos “peritos”.
É por isso que muitos, adoptaram o ponto de vista do filósofo
francês Jean-Paul Sartre, que achava que o homem devia ser seu próprio juiz das
questões morais. Este modo de pensar tem até sido adoptado por muitos
frequentadores de igrejas. As autoridades católicas, por exemplo, preocupam-se
de que muitos católicos não mais seguem os ensinos da Igreja sobre questões
sexuais, e usam anticoncepcionais, condenados pela igreja.
Valores que deveríamos prezar
Existem no entanto valores/virtudes morais, que são prezados por
todo mundo e atraentes para todos nós. Qualidades tais como: a honestidade,
bondade, compaixão e altruísmo; a chamada regra áurea ou de ouro de que”devemos
fazer aos outros o que queremos que nos façam a nós”; respeitar e honrar
outros; empenharmo-nos pela paz; ser tolerante; ser leal e fiel; ser honesto,
confiável e justo; ser trabalhador diligente; ser brando e bondoso. Estas são
qualidades e atitudes que prezo, admiro nos outros e que deveria permear os
chamados códigos de conduta actuais, pois apesar de não serem novos, são os que
verdadeiramente funcionam, do meu ponto de vista, naturalmente. Estes códigos
deveriam estar escritos, não num livro de leis, mas no coração de todos e de
cada um. Será isto uma utopia?
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