sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Nòs e os outros (parte II)

Pessoas em diferentes partes do mundo têm diferentes características físicas. Estas incluem a cor da pele, as feições faciais, a textura do cabelo, e assim por diante. Tais diferenças físicas distinguem uma raça da outra. Assim, as pessoas em geral falam de brancos e negros, chamando a atenção para a cor da pele. Mas as pessoas falam também de hispânicos, asiáticos, escandinavos, judeus e russos. Estas últimas identificações se referem menos a características físicas do que às diferenças geográficas, nacionais ou culturais. Assim, para a maioria das pessoas, a raça é determinada não apenas pelos aspectos físicos mas também pelos costumes, língua, cultura, religião e nacionalidade.

Evidência científica

O panfleto Race and Biology, de L. C. Dunn, professor de zoologia na Universidade de Columbia, diz: “Todos os homens pertencem claramente a uma única espécie, sendo semelhantes em todos os aspectos físicos fundamentais. Membros de todos os grupos podem casar entre si e realmente casam.” Daí, passa a explicar: “Todavia, todo homem é ímpar e difere de pequenas maneiras de todos os outros homens. Isto é em parte devido aos diferentes ambientes nos quais as pessoas vivem e, em parte, às diferenças nos genes que herdaram.”

Mas a evidência científica é conclusiva. Biologicamente falando, não existe raça superior ou inferior, uma raça pura ou uma raça contaminada. Características tais como a cor da pele, do cabelo ou dos olhos, coisas que alguns talvez considerem racialmente importantes não são indicativos de inteligência ou de habilidade da pessoa. Em vez disso, são os resultados de herança genética. Por exemplo, a cor da pele. A maioria das pessoas crê que a humanidade pode ser facilmente dividida em cinco raças segundo a cor da pele: branca, negra, parda, amarela e vermelha. Por raça branca em geral se entende pele branca, cabelos mais ou menos claros. Segundo esta definição os portugueses são de raça branca. Mas, na realidade, se olharmos para os portugueses podemos ver que há uma grande variedade na cor do cabelo, na cor dos olhos e na cor da pele entre os membros da chamada raça branca. Se todos os humanos realmente formam uma única família, por que, então, existem terríveis problemas de preconceito e discriminação raciais?

As raízes do preconceito e da discriminação

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.” - Artigo 1.° da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Apesar desse nobre ideal, o preconceito e a discriminação ainda afligem a humanidade. Essa triste realidade é um reflexo dos nossos tempos. Ele se origina de valores familiares aparentemente inocentes, mas mal direccionados, ou de conceitos distorcidos que algumas pessoas deliberadamente espalham sobre outras raças e culturas. O preconceito pode ser fomentado pelo nacionalismo e por falsos ensinamentos religiosos. E pode ser resultado de orgulho exagerado.

Os chamados grupos minoritários, sentem na pele quando as pessoas as evitam, olham-no de modo condenatório ou fazem comentários depreciativos sobre sua cultura. As oportunidades de emprego são raras, a menos que aceite um emprego servil que ninguém mais queira. Talvez seja difícil encontrar moradia adequada. Ou pode ser que seus filhos se sintam isolados e rejeitados pelos colegas de classe.

Não é segredo que os estrangeiros não raro executam trabalhos servis que os cidadãos locais desprezam. Assim, muitos recém-chegados têm de trabalhar sob duras condições em troca de baixos salários, ainda mais se forem imigrantes em situação ilegal. Ademais, os estrangeiros não raro sofrem muita discriminação no local de trabalho, por causa de sua condição de estrangeiro. Independentemente de quem sejam ou de onde tentem se estabelecer, a maioria dos imigrantes enfrenta o doloroso processo de sarar as feridas de suas raízes cortadas e formar novos laços para o futuro.

O preconceito pode instigar as pessoas à violência ou até mesmo ao assassinato. É verdade. As páginas da história estão repletas de exemplos angustiantes de violência, gerados pelo preconceito, entre os quais estão massacres, genocídios e as chamadas limpezas étnicas. As pessoas pensam em primeiro lugar como portugueses, espanhóis americanos, russos, chineses, ou egípcios, e em segundo lugar como seres humanos

Na religião, sem nenhuma excepção, encontramos talvez o maior fracasso da humanidade. Se a árvore é julgada pelos frutos, então a religião é responsável pelos frutos como o ódio, a intolerância e a guerra em seu próprio meio.

Parece que no caso da maioria das pessoas a religião é como a beleza: apenas superficial. É o verniz que logo descasca sob a pressão do racismo, do nacionalismo e da insegurança económica. Em vez de servir de influência positiva para civilizar a humanidade, a religião tem tido sua própria actuação fanática em atiçar as chamas do patriotismo cego e em abençoar os exércitos nas guerras e conflitos da humanidade. Ela não tem sido uma força progressiva no que diz respeito a mudanças.

O que podemos fazer?

Diz o livro, La Autoestima, de Luiz Rojas Marcos:”No entanto, a realidade é que os seres humanos gozam de uma surpreendente aptidão para se observarem, analisarem e julgarem. Todos nós, em algum momento, avaliamos o nosso físico através da nossa lente crítica particular. Também podemos avaliar o nosso temperamento, as nossas atitudes e condutas, de acordo com os nossos ideais ou as normas que a cultura em que vivemos estabelece”…”A luz da consciência torna possível a introspecção, essa aptidão especial que temos para nos debruçarmos sobre o nosso interior e examinarmo-nos”.

Uma coisa é certa: talvez não consigamos eliminar a discriminação ao nosso redor, mas podemos acabar com os preconceitos que nós mesmos talvez tenhamos. Um bom começo é admitir que nenhum de nós está imune a ter preconceitos. O livro Understanding Prejudice and Discrimination (Entendendo o Preconceito e a Discriminação) diz: “Ao pesquisar o preconceito, estas talvez sejam as conclusões mais importantes: (1) todos os dotados de raciocínio e fala podem nutrir preconceitos, (2) geralmente é preciso um esforço consciente para diminuir o preconceito e (3) é possível fazer isso, desde que haja motivação.”

Devemos escolher bem as amizades, pois exercem forte influência em nós. Por isso, pais sábios se preocupam muito com as amizades dos filhos. Pesquisas mostram que as crianças podem desenvolver preconceito racial já aos 3 anos de idade por copiarem atitudes, palavras e gestos de outros. É claro que os próprios pais devem fazer tudo a seu alcance para dar um bom exemplo aos filhos, pois normalmente é isso que tem mais influência em moldar os valores da criança.

Penso que a educação é a arma mais poderosa contra o preconceito. Por exemplo, a educação certa pode expor as causas dele, fazer com que examinemos nossas próprias atitudes com mais objectividade e nos ajudar a reagir com sabedoria quando nós somos as vítimas. Esta educação deve continuar a ser dada nas escolas e no seio familiar.

Algumas formas de preconceito

Etnocentrismo: O etnocentrismo é a atitude pela qual um indivíduo ou um grupo social, que se considera o sistema de referência, julga outros indivíduos ou grupos à luz dos seus próprios valores.

Preconceito linguístico: forma de preconceito a determinadas variedades linguísticas.

Homofobia: Discriminação contra a homossexualidade.

Transfobia: Discriminação contra as pessoas transexuais, travestis e transgéneros.

Heteroxismo: Atitudes culturais que privilegiam os heterossexuais.

Xenofobia: Medo irracional, aversão ou a profunda antipatia em relação aos estrangeiros

Chauvinismo: Termo dado a todo tipo de opinião exacerbada, tendenciosa, ou agressiva em favor de um país, grupo ou ideia.

Preconceito social: Preconceito a determinadas classes sociais que provém da divisão da sociedade em classes.

Racismo: Dar importância á noção de existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras.

Edaísmo: Preconceito sobre a idade.

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