sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Nós e os outros (parte I)

Mesmo quando admitimos a culpa, sempre há a tendência de minimizar a culpa quando procuramos culpar circunstâncias atenuantes, ou outros, sobre as quais afirmamos não ter tido controlo. Parece que há a tendência até mesmo de culpar os genes e isto leva á filosofia de que ninguém deve ser responsabilizado pelas suas acções. Serão os genes que determinam com exclusividade o comportamento humano? Ou será que tanto forças interiores como exteriores controlam o nosso comportamento? É o comportamento humano determinado inteiramente pelos genes que transmitem as características e traços biológicos hereditários do organismo?
Factores que influenciam
O momento em que se dá origem a um novo ser humano é o momento da concepção. Os chineses reconhecem isto por calcularem a idade desde aquele momento. Um bebé é considerado como já tendo um ano ao nascer. Uma vez que o óvulo é fecundado, a concepção já ocorreu, e se preparou um “esquema” para uma criatura humana viva.Nesse momento são fixados o sexo, as características fundamentais, físicas e emocionais, os dons e talentos especiais, bem como as deficiências, junto com uma infinidade de outros pormenores. O ambiente, tanto durante a gravidez como depois do nascimento, exerce uma influência modificadora ou intensificadora, mas o padrão básico da pessoa já está estabelecido. O esquema encontra-se nos 46 cromossomas, com seus muitos milhares de genes que transmitem a matéria hereditária de ambos os pais — 23 cromossomas de cada progenitor.
Mas por ocasião do seu nascimento, o bebé pode ser comparado a uma semente lançada num determinado ambiente. Os lavradores sabem isto. Existem vários tipos de solos, uns mais propícios do que outros para o bom desenvolvimento da semente. Há também que ter em conta o ambiente mais ou menos húmido para que a planta se possa desenvolver. Assim o nosso desenvolvimento, a pessoa que somos, dependeu muito se fomos criados num ambiente religioso ou não. Se crescemos em determinado país ou lugar com sua cultura e suas tradições próprias. Se vivemos numa zona rural ou numa cidade cercados por pessoas com outra mentalidade. Se os nossos pais eram ou são preocupados com a boa educação e em inculcar bons princípios de moral nos seus filhos, dando o exemplo.
Depois há a questão das pessoas com quem nos associamos no nosso dia-a-dia, na escola, na recreação, nos momentos de lazer. Diz-se: “diz-me com quem andas e eu te direi quem és” ou “anda com um ladrão e serás pior do que ele”. Se colocarmos uma barra de ouro e uma de prata juntas por algum tempo observar-se-á que partículas de ouro passaram para a barra de prata e vice-versa. De forma que se tivermos por hábito associarmo-nos com um delinquente teremos boas probabilidades de nos tornarmos delinquentes. A pressão dos colegas tem levado alguns à embriaguez ou ao vício das drogas. Se nos associarmos com aqueles que usam de linguagem suja, verificaremos, no fim, que também usamos tal linguagem. Associar-nos com pessoas desonestas tende a fazer-nos desonestos. Por outro lado, se nos associamos com pessoas com bons princípios de ética, seremos bem melhores cidadãos.
Serão os genes sempre responsáveis?
A ciência e a psiquiatria lutam para entender as novas pesquisas que sugerem que por exemplo, a homossexualidade, a criminalidade ou o alcoolismo, podem ser uma questão de genética, não de criação. Às vezes, a chamada evidência de que as tendências homossexuais são determinadas pelos genes é apresentada pelos media como factual e conclusiva, em vez de como possibilidade e inconclusiva. O estudo do alcoolismo e da criminalidade tem também fascinado muitos pesquisadores de genética no decorrer dos anos. Alguns afirmam que os estudos demonstram que a presença, ou a falta, de certos genes é responsável pelo alcoolismo ou pela criminalidade.
Embora seja possível argumentar que os genes influenciam o comportamento num sentido geral, é uma coisa muito diferente mostrar que um gene específico ou par de genes, ou mesmo um grande número de genes, realmente controlem detalhes específicos das reacções de uma pessoa ao seu meio ambiente. Neste ponto, é legítimo perguntar se alguém já encontrou, no estrito sentido molecular de localização e manipulação, quaisquer segmentos de DNA que previsivelmente afectem comportamentos específicos.
Nós podemos decidir o que fazer
Mas a verdade é que todos nós somos conscientes. Nós podemos reflectir sobre nossas experiências, tirar lições delas e usá-las para moldar o nosso futuro. Podemos cogitar várias situações futuras e avaliar os possíveis efeitos de cada uma. Temos a capacidade de analisar, criar, apreciar e amar. Temos valores éticos de comportamento e podemos usá-los ao tomar decisões que podem, ou não, ser de benefício imediato. Na mente podemos moldar e refinar as nossas ideias e imaginar como os outros reagirão, caso as concretizemos.
A mente tem sido descrita como “a esquiva entidade onde a inteligência, a tomada de decisões, a percepção, o estado de alerta e o sentimento de si mesmo residem”. Assim como riachos e rios correm para o mar, as recordações, pensamentos, imagens, sons e sentimentos constantemente entram ou passam pela nossa mente. O cérebro humano, e somente o cérebro humano, tem a capacidade de recuar no passado, examinar a sua própria actuação e, assim, conseguir certo grau de transcendência. De fato, a nossa capacidade de reescrever o nosso próprio roteiro e de nos redefinir no mundo é o que nos distingue de todas as outras criaturas no mundo.”
Todos nós sabemos que há pessoas, e até mesmo grupos, que ignoram ou pisam os valores elevados, mas a maioria não faz isso. Por exemplo, a maioria dos indivíduos e dos grupos acham errado o assassinato a mentira a ladroagem. Obviamente, existe um senso de moralidade que inspira a sociedade humana em geral e que tem sido incorporado nas leis de muitos países.
Podemos pensar e planear o futuro
Outra faceta da consciência humana é a nossa capacidade de considerar o futuro. Quando lhe perguntaram se os humanos têm traços que os distinguem dos animais, o professor Richard Dawkins (zoólogo, etólogo e evolucionista britânico) reconheceu que o homem tem, qualidades ímpares. Depois de mencionar “a habilidade de planejar usando a previsão consciente, imaginada”, Dawkins acrescentou: “Benefícios a curto prazo sempre foram o que valeu na evolução; benefícios a longo prazo nunca valeram. Jamais foi possível que algo evoluísse caso fosse ruim para o bem imediato, a curto prazo, do indivíduo. Pela primeira vez agora é possível que, pelo menos algumas pessoas, digam: ‘Esqueça que você pode lucrar a curto prazo derrubando esta floresta; já pensou no benefício a longo prazo?’ Isso, sim, acho genuinamente novo e ímpar.”
Muitas das decisões que tomamos resultam em bem, mas outras podem ser como as balas que saem de uma pistola que depois de saírem não podem voltar atrás. Algumas decisões que tomamos ainda podem ser remediadas ou corrigidas, mas outras são irreversíveis, impossíveis de reparar.
Eu considero que aquilo que sou hoje é o resultado de todos estes factores: a herança genética, a educação e o exemplo de meus pais, o lugar onde cresci e vivi, as minhas companhias e as minhas decisões pessoais. Muitas vezes tive êxito. Outras nem por isso. Mas no cômputo geral, considero que tenho sido bem sucedido e preparado para esta vida moderna atribulada em constante mudança. Considero muito importante a família e a escola como os centros da boa formação do ser humano.

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