Quando uma pessoa, não importa de que estrato social chega à beira do precipício que não tem fundo chamado morte, não consegue ver nem entender mais nada . Ela poderá ver o maior animal, ou o maior volume de matéria acumulada , por exemplo uma montanha. Se tem os instrumentos apropriados pode ver até as galáxias mais distantes ou as mais pequenas formas de vida microscópicas. Mas, depois disso tudo é escuridão e a última fronteira entre o que é conhecido e o que é desconhecido.
Ninguem vê a morte. Ela simplesmente acontece e leva alguém, e num abrir e fechar de olhos percebemos que ela passou e deixou alguém sem a vida. Depois disso ficou o escuro, ninguém tem respostas concretas, nem os religiosos, nem os os ateus. Persistirão sempre as perguntas: Porquê? Para onde? Como? E o que era dela? Não o material,mas sim as coisas do interior do seu ser, de todo um projeto construido durante seus parcos 50, 70, ou 90 anos de vida. O que foi feito daquilo que eram seus valores? Suas bondades acumuladas. Em que se transformaram as suas alegrias e os seus sentimentos?
As pessoas vivem a procurar uma finalidade para as suas vidas. Sempre presas aos conceitos do "a fim de que", sempre "vivendo para" e raramente "vivendo apenas". Na verdade a vida não tem finalidade alguma. As pessoas vivem esforçando-se para serem alguma coisa, trabalhando para alguma coisa e raramente vivendo apenas. Tudo é um disfarce para esconder e ocultar o total vazio das suas vidas. A natureza nada sabe sobre"finalidades" ou "objetivos".
As pessoas estabelecem como finalidade para as suas vidas constituir famílias, alcançar reconhecimento social, segurança financeira, amor dos filhos ou conjuges mas tudo isso se acaba, deixa de existir, morre, se perde. Depois entra em cena a falácia religiosa da imortalidade, ou uma futura ressurreição, ou uma reencarnação, o já tão sobrecarregado e esforçado ego do religioso. Mais uma "finalidade" para ser alcançada, mais um nó na camisa de força dos hábitos e condicionamentos sociais.
As pessoas, alimentadas por nossas religiões e filosofias egoicas, persistem em se comportar como se fossem viver para sempre, como se seus egos fossem indestrutíveis ou como estivessem destinadas a receber como recompensa por méritos pessoais a imortalidade. Afirmações tolas infantis e egoístas!
Quando a pessoa por fim aceita o vazio da vida e deixa de viver em busca de finalidades ela paradoxalmente vivencía a plenitude da existência. Passa a viver apenas como um ser humano, sem qualquer importância auto-reconhecida, sem quaisquer impulsos psicológicos que se dirijam para além do aqui e agora. Afinal, a realidade que vivenciamos é criada na mente. Nós é que procuramos sentido para as coisas. Talvez pensemos em casar, ter filhos, ganhar dinheiro, mas no final tudo são apenas simples meios de sustentar nosso ego, sustentar nossos desejos, nossas vontades.
Envelhecemos, adoecemos e morremos. E depois, o que sobra? Talvez nada, não vou afirmar com certeza que depois disso tudo acaba. Quem sabe um dia eu descubra.Essa nossa capacidade de raciocinar e ver as coisas mais do que elas são, é que nos faz estar constantemente em busca disso, desse sentido.
"O melhor que temos a fazer mesmo é simplesmente viver."