domingo, 29 de janeiro de 2012

A finalidade da Nossa Vida

Quando uma pessoa, não importa de que estrato social chega à beira do precipício que não tem fundo chamado morte, não consegue ver nem entender mais nada . Ela poderá  ver o maior animal, ou o maior volume de matéria acumulada , por exemplo uma montanha. Se tem os instrumentos apropriados pode ver até as galáxias mais distantes ou as mais pequenas formas de vida microscópicas. Mas, depois disso tudo  é escuridão e a última fronteira entre o que é conhecido e o que é desconhecido.
Ninguem vê a morte. Ela simplesmente acontece e leva alguém, e num abrir e fechar de olhos percebemos que ela passou e deixou alguém sem a vida. Depois disso ficou o escuro, ninguém tem respostas concretas, nem os religiosos, nem os os ateus. Persistirão sempre as perguntas: Porquê? Para onde? Como? E o que era dela? Não o material,mas sim as coisas do interior do seu ser, de todo um projeto construido durante seus parcos 50, 70, ou 90 anos de vida. O que foi feito daquilo que eram seus valores? Suas bondades acumuladas. Em que se transformaram as suas alegrias e os seus sentimentos?

As pessoas vivem a procurar uma finalidade para as suas vidas. Sempre presas aos conceitos do "a fim de que", sempre "vivendo para" e raramente "vivendo apenas". Na verdade a vida não tem finalidade alguma. As pessoas vivem esforçando-se para serem alguma coisa, trabalhando para alguma coisa e raramente vivendo apenas. Tudo é um disfarce para esconder e ocultar o total vazio das suas vidas. A natureza nada sabe sobre"finalidades" ou "objetivos".
As pessoas estabelecem como finalidade para as suas vidas constituir famílias, alcançar reconhecimento social, segurança financeira, amor dos filhos ou conjuges mas tudo isso se acaba, deixa de existir, morre, se perde. Depois entra em cena a falácia religiosa da imortalidade, ou uma futura ressurreição, ou uma reencarnação, o já tão sobrecarregado e esforçado ego do religioso. Mais uma "finalidade" para ser alcançada, mais um nó na camisa de força dos hábitos e condicionamentos sociais.
As pessoas, alimentadas por nossas religiões e filosofias egoicas, persistem em se comportar como se fossem viver para sempre, como se seus egos fossem indestrutíveis ou como estivessem destinadas a receber como recompensa por méritos pessoais a imortalidade. Afirmações tolas infantis e egoístas!
Quando a pessoa por fim aceita o vazio da vida e deixa de viver em busca de finalidades ela paradoxalmente vivencía a plenitude da existência. Passa a viver apenas como um ser humano, sem qualquer importância auto-reconhecida, sem quaisquer impulsos psicológicos que se dirijam para  além do aqui e agora. Afinal, a realidade que vivenciamos é criada na mente. Nós é que procuramos sentido para as coisas. Talvez pensemos em casar, ter filhos, ganhar dinheiro, mas no final tudo são apenas simples meios de sustentar nosso ego, sustentar nossos desejos, nossas vontades.
Envelhecemos, adoecemos e morremos. E depois, o que sobra? Talvez nada, não vou afirmar com certeza que depois disso tudo acaba. Quem sabe um dia eu descubra.Essa nossa capacidade de raciocinar e ver as coisas mais do que elas são, é que nos faz estar constantemente em busca disso,  desse sentido.
"O melhor que temos a fazer mesmo é simplesmente viver."


Quem sou eu afinal?

Quando eu me olho num espelho, apenas consigo ver o reflexo do meu físico. Talvez possa ver as rugas, resultantes de uma prolongada falta de descanso. Ou que os meus cabelos estão cada vez mais brancos, em grande parte devido à idade. Poderei ver também a minha silhueta, que poderá evidenciar a necessidade de fazer mais exercício físico ou de adoptar uma dieta. Mas o espelho não me “dirá” o que realmente eu sou como pessoa, a minha personalidade e o meu comportamento. Este exame terá que ser feito reflectindo em factores tais como, a genética, a alimentação, o ambiente familiar, a educação que tive, as minhas companhias e as experiências que tive ao longo da minha vida, tanto boas como más.
A genética
O código ADN que transmite as caracteristicas hereditárias, inclui descrições e instruções codificadas para o desenvolvimento de cada pessoa. Embora sendo difícil provar o elo de relação entre os genes e a personalidade, existem factores que têm de facto relação directa. Por exemplo, alguns são por herança introvertidos, enquanto outros são por natureza mais extrovertidos.
Um bébé ainda no seio de sua mãe absorve os benefícios e os malefícios das acções, dos pensamentos e sentimentos da sua progenitora. O tom de voz, a música que ouve, a paz ou a irritação, é assimilado pelo bébé no ventre de sua mãe, e tudo isso, dizem os especialistas, vai ínfluenciar a personalidade da futura criança. Se a mãe toma bebidas alcoólicas ou drogas, ou fuma, ou não se alimentava convenientemente, são factores a considerar. Na verdade por ocasião do meu nascimento muitas das minhas características de personalidade já estavam fixadas.
A alimentação e o meio ambiente
A medida que uma criança se desenvolve, certas substâncias nos alimentos influenciam o comportamento. Por exemplo, o consumo de adoçantes, corantes artificiais e conservantes resultam em hiperactividade, tensão alta, irritabilidade, neuralgias e os gestos imoderados e descontrolados.
O ambiente fornecido à criança durante os primeiros anos de vida, desempenha um papel muito significativo no processo de moldagem. Não é apenas a casa onde moramos, mas é a espécie de lar que cria nesta casa. É limpa, esmerada e ordeira? É um lar pacífico, livre de brigas, gritarias e ira? O pai e a mãe respeitam-se? Admitem os seus erros quando erram? Prezam valores tais como, honestidade, verdade e o que é justo? Caso contrário, a personalidade será afectada para mal, não duvidemos disso. O comportamento dos pais, seus gostos e suas aversões, e seus os preconceitos exercem forte efeito na personalidade. Tendemos a ficar aborrecidos com as mesmas coisas que os aborreciam e toleramos as mesmas coisas que eles toleravam. Provavelmente nós apercebemo-nos disso apenas quando ouvirmos alguem dizer: “tu estás a agir igualzinho ao teu pai”.
A posição social, a vizinhança, e o ambiente escolar, são também factores a considerar, mas os três factores que mencionei antes - a herança genética, a alimentação nos primeiros anos e o ambiente familiar – parecem-me ter sido os mais importantes naquilo que sou hoje como pessoa.
Experiências que contam
Ao longo da minha vida de adulto, várias são as experiências que me “amadureceram”: o namoro, o casamento, o criar uma filha, o emprego, as minhas relações laborais com co-trabalhadores e patrões, as minhas viagens de trabalho, tudo isto abriu os meus horizontes, o meu entendimento da humanidade e a compreensão de que apesar da grande diversidade de culturas, afinal somos todos uma família- a humanidade. Ajudou-me a ser razoável, a usar de empatia ao lidar com os outros, a compreender que nem todos tem a mesma formação e a mesma maturidade, que nem sempre tenho razão e que posso sempre aprender com a experiência dos mais idosos e dos mais novos. Também o meu modo de pensar, naturalmente, foi-se adaptando às circunstâncias e aos cenários de evolução da sociedade em constante mudança. Quando era criança, pensava como criança. Agora como adulto penso como um adulto amadurecido com a vida e as experiências.
Afinal, quem sou eu?
Fazendo um exame rectropectivo à minha vida, posso ver um rapazinho, primogénito de uma familia de seis irmãos e três irmãs, nascidos de um pai e uma mãe preocupados com a vida, por terem também eles nascido em famílias pobres sobreviventes á Segunda Guerra Mundial. O meu pai era bastante temperamental, como eu considero que também sou, mas também amante do que é justo, do que é honesto e verdadeiro. Por ter passado algumas necessidades físicas, não tolero ver desperdiçar comida, ou outros recursos financeiros. Detesto ver as crianças mimadas, sem disciplina, e os jovens irresponsáveis e sem respeito pelas autoridades.
Posso-me recordar de um menino que aos seis anos foi para a escola primária, percorrendo cerca de três quilometros a pé para cada lado, quer chovesse, quer fizesse sol, com um pedaço de pão de milho na sacola para a merenda. Não havia mais nada! Muito interessado em aprender e crescer para a vida. Gostava de História, Ciência e Matemática.
Lembro-me de um adolescente introvertido, que aos 13 anos foi trabalhar para uma fábrica para ajudar nas despesas da casa. De facto entreguei a meu pai todos os meus salários até um mês antes de casar aos 21 anos de idade. De meus meus pais herdei o respeito pelo trabalho, o respeito pela autoridade e o respeito pela honra.
Posso recordar um jovem adulto, cheio de projectos e ambições, movido pelo entusiasmo da juventude, da robustez e saúde. Finalmente, aqui estou eu, com 55 anos, reflectindo sobre o sentido da vida, analizando os êxitos e os fracassos, e de forma madura e objectiva tirando conclusões. Sinto-me agora uma espécie de filósofo que sabe tudo e ao mesmo tempo não sabe nada. Tenho teorias para tudo, mas constato que ainda ando nas beiradas do conhecimento e do saber. Ou como diz o ditado:” Nascemos a aprender e morremos sem saber”.
Conclusão
A espécie de pessoa que sou hoje, a minha personalidade, os valores que prezo e o que me dá prazer fazer, foi tudo moldado ao longo da vida como diz François Jacob, no seu livro” A estátua interior”. Todas as minhas experiências desde que fui concebido no ventre de minha mãe e todas as circunstâncias da minha vida como homem, têm sido conduzidas à estrutura substantiva do eu.